Nesta quinta-feira (13), as negociações para a criação de uma mega holding envolvendo Honda, Nissan e Mitsubishi foram oficialmente canceladas. O acordo, avaliado em mais de US$ 60 bilhões, visava posicionar o novo grupo como o terceiro maior fabricante de automóveis do mundo, mas acabou sendo inviabilizado por profundas divergências sobre governança e modelo de integração.
O processo teve início em dezembro de 2024, quando as três montadoras firmaram um memorando de entendimento com a ambição de unir recursos para enfrentar os desafios do setor – entre eles, a revolução dos veículos elétricos, a crescente competição de fabricantes chineses e a pressão por redução de custos. A proposta era criar uma estrutura que permitisse decisões ágeis e o compartilhamento de tecnologia para impulsionar a inovação e a eficiência na produção.
Divergências
Modelo de Governança e Autonomia: Um dos pontos centrais de discórdia surgiu quando a Honda propôs alterar a estrutura original da holding. Segundo fontes, a montadora japonesa sugeriu transformar a Nissan em uma subsidiária – um modelo no qual a Honda teria o controle da nova entidade, nomeando a maioria dos diretores. Essa proposta foi imediatamente rejeitada pela Nissan, que temia reviver um cenário similar ao imposto pela Renault no passado, quando a configuração da aliança a colocava em uma posição subsidiária, limitando sua autonomia e capacidade de ação.
A situação se agravou ao saber que a Honda pressionava para minimizar a influência da Renault na nova estrutura. A Renault, que detém 36% da Nissan (parte por meio de um fundo francês), já havia imposto, historicamente, condições que afetavam o grau de autonomia da Nissan – algo que a montadora japonesa não deseja repetir. Em suma, a Nissan rejeitou a ideia de ser tratada como uma subsidiária novamente, desta vez sob o comando da Honda, e não queria que o mesmo modelo se repetisse.
Envolvimento da Mitsubishi: Embora inicialmente a Mitsubishi estivesse incluída nos planos para fortalecer a união, a empresa acabou optando por manter sua independência ou foi excluída do projeto, reforçando a impressão de que as divergências entre os participantes eram irreconciliáveis.
Mercado
O anúncio do cancelamento impactou o mercado de forma imediata: as ações da Nissan sofreram quedas acentuadas, refletindo a apreensão dos investidores quanto à continuidade de sua reestruturação, enquanto as ações da Honda subiram, indicando que o mercado interpretou positivamente a decisão de preservar a autonomia.
Com o fim do projeto, as empresas terão que traçar estratégias alternativas para enfrentar os desafios do setor automotivo. A Nissan, que vem passando por uma crise financeira – com um plano de reestruturação que prevê a demissão de 9.000 funcionários e a redução de 20% da capacidade global – deve intensificar seus esforços para se recuperar de forma independente, possivelmente buscando novos parceiros, como a Foxconn, que tem se mostrado interessada em investir na marca. Por sua vez, a Honda pode explorar outras alianças estratégicas sem abrir mão do controle sobre suas operações.