A Cabine Lilás ganhou nesta sexta-feira (6) mais 26 novas policiais que atenderão mulheres vítimas de violência doméstica no estado de São Paulo. A formatura foi realizada no Centro de Operações da Polícia Militar (Copom) da capital paulista, onde foi realizado o treinamento.
Com a turma formada em outubro, o projeto agora conta ao todo com 52 novas policiais que prestarão atendimento especializado às mulheres vítimas de agressão. A capacitação dessas profissionais permitirá que o serviço chegue até o interior paulista.
Dessas alunas, 37 serão distribuídas aos respectivos centros de operações da PM do interior paulista, nas regiões de São José dos Campos, Campinas, Ribeirão Preto, Bauru, São José do Rio Preto, Santos, Sorocaba, Presidente Prudente, Piracicaba e Araçatuba. Ainda será definida a data para o início dos atendimentos, que serão feitos gradualmente.
Já as demais se juntarão às policiais que já atendem na capital paulista e Grande São Paulo desde março, quando o projeto foi implantado inicialmente.
Curso
A sargento Angélica Túlio, que tem quase dez anos de experiência no Centro de Operações da PM, é uma das formandas da turma. Há cinco anos se transferiu para Campinas, sua cidade natal, onde trabalha como supervisora e despachadora do Copom da região.
Para ela, o projeto é um marco e o início de uma grande mudança no combate à violência contra a mulher. “Quando elas ligam no 190, geralmente é para solicitar uma viatura de emergência. Mas elas precisam de algo a mais, uma orientação, um conforto, que é proporcionado pela Cabine Lilás”, conta a sargento.
A capacitação das policiais durante o curso permite que as vítimas de agressão recebam um atendimento mais especializado e humanizado. O programa conta com atendentes 100% femininas e com um maior tempo de serviço por se tratar de uma cabine exclusiva para casos de violência doméstica ou familiar. Isso dá mais confiança à vítima para registrar o ocorrido.
“A Cabine Lilás centraliza em um único lugar todas as iniciativas do estado de proteção à mulher. Cerca de 30% das mulheres que recebem orientação pela Cabine Lilás acabam registrando o boletim de ocorrência. Esse é o primeiro passo para acabar com o ciclo da violência, disse o comandante do Copom de São Paulo, coronel Carlos Henrique Lucena.
Durante uma semana, as policiais tiveram aulas de psicologia, direito, redes de apoio, medidas protetivas e sobre o funcionamento das Delegacias da Defesa da Mulher. Além disso, foi ensinado o comportamento adequado na hora de atender a ligação, como a melhor forma de conversar, se expressar e o tom de voz adequado.
Agressores conduzidos à delegacia
A Cabine Lilás já realizou quase 5 mil atendimentos pelo número 190 desde o início da implantação do serviço, em março. Foram mais de 2,8 mil orientações sobre como obter a medida protetiva. Nesse período, 84 agressores foram conduzidos à delegacia com o apoio das operadoras da cabine por descumprimento das regras impostas pela Justiça. Do total, 23 permaneceram presos.
O serviço de proteção e rede de apoio à mulher pode ser solicitado pela própria vítima ou pode ser indicado pelo atendente, caso a mulher queira falar com uma policial ou se tiver dúvidas em relação a quais medidas adotar caso seja agredida.
“Em quase todas as vezes, as mulheres nos ligam quando já aconteceu a agressão, quando o suspeito não está mais no local. Enquanto a gente despacha a viatura até o endereço, ficamos com a pessoa na linha dando apoio psicológico e passando as orientações”, explica a cabo Raiane Cavalcante, que fez parte da primeira turma do programa.
A militar também reitera que muitas vítimas ligam já fragilizadas e com vergonha de irem até a delegacia. Então elas são orientadas a abrir um boletim de ocorrência sem sair de casa, por meio do aplicativo SP Mulher Segura. A denúncia é direcionada diretamente para a DDM Online.
Em alguns casos, as vítimas fogem de casa depois da agressão sofrida e não têm para onde ir. Ao ligar na central 190, a Cabine Lilás oferece suporte para encaminhar a vítima para uma rede de abrigo, onde ela recebe orientações sobre obter auxílio-aluguel e ter acesso a demais serviços de acolhimento.
Nos primeiros dez meses do ano, 158 mil boletins de ocorrência de violência doméstica foram registrados em todo o território paulista. Além da Cabine Lilás, o estado disponibiliza 141 DDMs territoriais — sendo que 11 funcionam 24 horas – e 148 salas DDMs instaladas estrategicamente em plantões policiais, possibilitando que a vítima seja atendida por videoconferência por uma equipe especializada.
SP por Todas
Como as subnotificações para o crime ainda são altas, o Governo de São Paulo tem promovido campanhas para incentivar as vítimas a denunciarem os agressores. Em março deste ano, foi lançado o movimento “São Paulo por Todas” para ampliar a visibilidade das políticas públicas para mulheres, bem como a rede de proteção, acolhimento e autonomia profissional e financeira que viabiliza serviços exclusivos para elas.
Uma dessas frentes foi o lançamento do aplicativo SP Mulher Segura. Além de permitir o registro do boletim de ocorrência de forma online, o app possui um botão de pânico para emergências e realiza de forma ininterrupta o monitoramento do agressor com tornozeleira eletrônica, o que permite uma rápida ação da polícia em caso de o infrator tentar se aproximar das vítimas que possuem medidas protetivas.
Também houve a criação do auxílio-aluguel de R$ 500 para vítimas de violência doméstica, e da ampliação de linhas de crédito e de entregas das Casas da Mulher Paulista, que oferecem serviços de apoio psicológico e capacitação profissional.
Já o protocolo Não Se Cale foi implementado para acolhimento imediato e combate à importunação sexual em bares, restaurantes, casas de show e similares, formando equipes em um curso online oferecido gratuitamente aos profissionais do setor.