Nas últimas semanas, os noticiários estão com o mesmo foco: as queimadas em diferentes Estados do país, como São Paulo e Amazônia. De acordo com os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), nos 20 primeiros dias deste mês, o número de queimadas na Amazônia superou o número total em relação ao mesmo período em 2023. Em meio a isso tudo, um fenômeno, que contribui para a segurança hídrica, precisa de atenção e tem agravado a proliferação de fumaças causadas por incêndios florestais: os rios voadores.
Rios voadores são correntes de vapor d’água que se formam e se deslocam a grandes altitudes, transportando enormes quantidades de umidade da região amazônica para outras partes do Brasil e da América do Sul. Eles impactam positivamente o regime de chuvas em diversas áreas brasileiras, especialmente no Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Esse fenômeno consegue também transportar pequenas partículas sólidas, como as de fumaça provenientes das queimadas, que acabam se misturando com o fluxo de vapor, se espalhando pelas regiões, alterando padrões de vento e umidade, dificultando a formação de nuvens de chuva e contribuindo para um clima mais quente e seco.
“Incêndios florestais e queimadas não somente prejudicam a vegetação, como causam efeitos negativos também em animais, fertilidade de solo, produção de alimentos, nascente de água e, até mesmo, na qualidade do ar, impactando todo o sistema”, explica a engenheira agrônoma Marília Gregolin, diretora técnica do Crea-SP. “É preciso deixar muito claro que ao evitarmos as queimadas, estamos contribuindo para um mundo melhor e que é bem mais fácil e adequado realizarmos um trabalho preventivo do que um curativo”, ressalta.
Cada um tem um papel importante para prevenir e impedir que esse cenário continue. Neste mês de agosto, a Defesa Civil decretou alerta para São Paulo, que registrou baixa umidade relativa do ar com apenas 12%. Nesta semana, 48 municípios estão em estado de atenção para queimadas. A atuação de profissionais da área tecnológica, com o devido registro no Crea-SP, por exemplo, é fundamental para mitigar os impactos negativos.
“Estamos vivenciando um período complexo, de seca e incêndios florestais. Essas nuvens carregadas, em vez de água, acabam transportando as fumaças tóxicas para diferentes regiões, causando sérios problemas para o meio ambiente e também de saúde, resultantes da má qualidade do ar”, explicou o presidente da Associação dos Engenheiros e Agrônomos de São Manuel e Região (AENSAM) e coordenador executivo da União das Associações do Centro Oeste Paulista (UNACOP), engenheiro florestal Luiz Gustavo Delgado.
Estudos, pesquisas e projetos voltados às queimadas para buscar formas de prevenção, incentivar e realizar treinamentos de capacitação para controle de incêndios e elaborar atividades de educação ambiental, são algumas das alternativas apontadas por Delgado. As ações de fiscalizações do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), e de órgãos ambientais federais, estaduais e municipais também se tornam grandes aliadas no combate ao fogo.